quinta-feira, 10 de julho de 2008

Sei lá.

Depois de alguns diálogos com um amigo, percebi que não mais escrevia aqui.
E isso me levou a refletir a respeito dos motivos que me levavam a escrever. A tristeza sem dúvida é o combustível maior daquele que escreve.
Mas eu tenho agora diante de mim, o desafio e escrever sobre as tristezas mpinimas... Aquelas que a gente poetiza.. que a gente tem mania de pintar de outras cores que não em escala de cinza...
Uma vida em escala de cinza é muitas vezes mirada através de um caleidoscópio colorido, para que, se as cores não derem conta de melhorar, as transifguração dê.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Todo fim um dia chega.

Até mesmo o fim das convicções. Muitas coisas que parecem certezas, de repente mudam. E não foi diferente na vida dela.
Tinha decidido havia poucos meses que não mais se permitiria ações levianas, diversões somente se tivessem por trás de si algo de muito libertador e isso já era convicção. A única coisa que ela não havia calculado, era o poder da novidade.
Há tanto tempo sua rotina não mudava, que simplesmente sumiram de seus pensamentos as coisas que nela não estavam inclusas.

E eis que surgiu um elemento novo na sua rotina: a displicência.
E esta chegou de forma avassaladora, com tudo aquilo que poderia haver de mais jovem e bonito. Com uma ingenuidade que de tão pura lhe parecia forçada. Arrastou sua convicção pra baixo do tapete, pra baixo de si, pra baixo de tudo.
E foi embora.


O ônibus não passa, a saudade não passa, o fim chega e não passa.

sábado, 3 de maio de 2008

Tudo junto de uma vez.

"Estou podando o meu jardim..."



É nesse meio de tudo que me encontro hoje.

Tirando as bordas, as arestas, os cantos... E vendo com certa distância tudo que cai, que se vai...

Podar dói...



Mas dói também se dentir podado da vida do outro... Mal chegamos à porta e já ouvimos: "Pode ir embora, não tem ninguém aqui".

A lógica dolorida das palavras desespera. O sono que não vem na hora em que se espera, um nome que nunca pára de se repetir na mente.

Um nome.



Sensação esquisita essa de sentir falta. Falta sempre alguma coisa, mesmo quando nada nos falta.
No meio da loucura cotidiana, a gente sempre arruma espaço pras crises. Na maioria delas, com a gente mesmo. Crises que não dão conta de nada. Nada explicam, nada acrescentam, apenas dão ao outro uma certeza equivocada de que nos conhece, e de que somos a crise.


"Don´t lose your head
then lose your guy
You can't lose a broken heart"

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Como me dizem os sambas

"É uma ponte lá para o longe
dos horizontes jardim sem espinhos
Vinho que vai bem com qualquer canção
Roupa de vestir qualquer estação"

De acordo com Luiz Carlos da Vila, essa seria a definição do que é amar.
Na sambitude das minhas intepretações isso é tão sublime que chega a ser inominável

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Deus é finito.

Finito.

Toda eternidade é finita. Não quero aqui escrever os paradoxos poéticos que a tantos encantam, mas a mim eles já enojam, enojam mais por se mostrarem tão reais.
Voltando, essa finitude cotidiana, quando começamos sempre algo que se faz parecer com um ciclo e em seguida se rompe. Se rompe porque o alguém sempre se vai.
E ir nunca é problema, a não ser quando quem fica é a gente. Eu me acostumei a deixar, até que começou um ciclo de pessoas queridas me deixarem. O que eu fiz? Deixei também.
E eis que vem um que desde sempre disse: "Ei, eu vou te deixar, aliás, eu não estou nem aqui."
Mas depois diz:"Ei, estou aqui, não vou te deixar."
E ele está e nunca está. Como Deus.

Mas a minha fé não dá conta de um deus tão frágil. Um deus que se vai porque se esconde, porque não quer ser visto. Um deus covarde.

Um deus que esconde os olhos, sabe-se lá porquê.

E tento a esse deus dizer adeus, mas parece vão.
Os olhos de deus são demasiado profundos, e eu, não fujo de olhos...

domingo, 13 de abril de 2008

Do amor e das palavras.

Dessa vez, a coisa linda é entender quando se é amado, mesmo quando ser amante grita o contrário.
Entender que o amor, assim como a música, não se alimenta de palavras, é um processo muito intrigante. E eu, pessoa para a qual as palavras sempre significaram demais, percebi que as palavras significam muito mesmo, mas quando elas não se pretendem significar.

A poesia se pretende escrita, declamada, doída.
Mas, ao contrário do que se pensa, a poesia serve muito mais ao poeta do que às musas.
Porque o poeta, na maioria das vezes, não alcança com a poesia, a verbalização do que as musas os inspiram.




Matei todos que escreveram sobre mim.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Levidade

A mim nunca pareceu tão estranho e complicado ser leve.
Nunca antes senti a diferença entre o ar dentro e fora de mim, andar era como deslizar no tempo. Todas as maravilhas da leveza eu experimentei, até que o peso chegou. Mas eu já o quero mandar partir, de todas as coisas que tenho e não quero, a que menos quero é o peso.

O peso entorta os ombros de que tanto gosto, todos os ombros se enfeiam com o peso. O peso nos fura embaixo dos olhos, nos arranca as unhas e torna opaco nossos cabelos.





Estou hoje, meu amor, me livrando do peso que é você.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sem título

Apaguei o escrevi outrora, para tentar fazer mais bonito dessa vez.
Consegui fazer com que hoje fosse mais bonito que ontem. Consegui me emaranhar em cabelos. Consegui captar dos cabelos o emaranhado de sonhos. Nunca pensei que o simples toque guardasse em si tantos atributos de uma sinestesia generalizada.
Senti o cheiro, o gosto, a cor de um toque.

Ouvir o som da voz. Ai, que coisa tão maravilhosa. Mirar bem no fundo dos olhos. Para mim é certo que poucos fazem isso comigo. Mirar no fundo dos meus olhos é se perder num abismo que a maioria não está disposto.
Mas, no mistério dos meus olhos está o que meu corpo explica.

Você que me leu tão precisamente, embora tão depressa. Você de quem cheguei tão perto. Você que eu nem conheço. Senti hoje o cheiro de sua alma e ao contrário do que eu pensava das almas, elas cheiram exatamente como os corpos.
Têm o cheiro bom da manhã, têm o cheiro de ombros. De ombros que largaram todo o peso pra trás. A alma cheira ao pó. Ao pó espanado da mobília antiga, do estofado do carro que nós não temos, mas que está lá.

As almas cheiram a mãos e cabelos. A braços e pernas. A um abraço demorado.
A alma tem cheiro de pele.












Música: Cantinho- Ana Carolina

sábado, 29 de março de 2008

Ais

A pele está aberta em cada centímetro onde você passou. Cada canção romântica dói, a brisa hoje arde em brasa em cada centímetro onde você passou. Ao contrário do que parece, eu já não quero mais. O que faz doer é a cisma, e nada há de romântico nisso. Meus dias são contados, assim, como todas as coisas sublimes, como as luas. Como aquela Lua que nos serviu de testemunha. Testemunha do acaso, testemunha do nada. Testemunha de mim, apenas.

segunda-feira, 24 de março de 2008

O sonho tácito.

E o rapaz dos pés alados sumiu tão depressa quanto apareceu. A cortesia rude daquele curto momento se dissipara quando as asas em seus pés ordenaram a partida, e o que ficava era poeira, um livro e a lembrança.
A Ade Ofara não era incômoda a lembrança, ao contrário, embora ela não conseguisse explicar, ter do que lembrar era sinal de que algo entre os dois algum dia foi real.
Há três noites Ofara sonhava com o rapaz e passava o dia se perguntando sobre o que estava por vir, por certo, algo importante, o grande distribuidopr de sonhos não repetiria tantos deles em vão.
Durante dias, esperou ansiosa a hora de deitar-se, para saber quais histórias viveria durante a madrugada. E o fato se tornou rotina: quando havia sol elas aguardava a noite, e assim colecionava sonhos, como quem coleciona amores.

sábado, 22 de março de 2008

Sobre o olho da sina.

Nos olhos das crianças residem mil coisas...

Para além da ingenuidade e da pureza, residem os medos dos adultos. Tudo que aquele homem temia, estava nos olhos daquela garotinha. Todos os medos e frustrações daquela mulher, naqueles olhos também estavam. E ela sabia, a despeito do que pudesse parecer, que sobre aqueles ditos, tinha um trunfo.
Ante tudo o que eles questionassem, ela dava o silêncio.
E assim foi, até que o destino a batizou: Aborto de Satanás.
Quão infame poderia ser seu futuro, se nem Ele a quisera mais?



Mas aquela criança ri
E sobre todos os pesares, ela ri
E seu sorrir ilumina
As marcas e frieiras de quem.
E seu sorrir arruina
A calma e a paz de alguém.
Mas ela, antes de ser, é.
E depois, quando tudo aquilo se for
Ela ainda será.





Nos olhos dos jovens residem outras tantas...

Ai, menino.
Que guardas nesses olhos nem tão meninos assim? O sumiço é resposta. Quarto, papel, folha, lápis, livro, bicicleta, cobertor. Tudo em teu cotidiano.
Vontade, carência, fome, desejo, engano,engano,engano,engano. Tudo em teus olhos.





Escrito em conversa com Márquez.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Miopia

Passei os últimos dois dias pensando a respeito da miopia.

Tenho sentido dificuldade em burlar os abismos de comunicação entre mim e o alheio. Rogo diariamente às musas que a tantos inspiraram, que me inspirem pelo menos uma vez, com palavras que burlem a miopia de seus sentidos.
Não pode ser sério uma pessoa não perceber os cânticos entoados pelo coro que habita uma alma. Duvido da realidade que sussurra,no mais sensível acesso a meu cérebro, que querer é errado.

Hoje me deitei em pensamentos, tentando ver se encontrava em meus registros mentais o oftalmologista mais próximo.
Depois de recordistas sete dias, chorei.

Acho que não encontrei no catálogo dos dias, o tal especialista.

Posto que não tenho essa habilidade científica, te deixo com tua miopia generalizada, torcendo para que ela não e abata sobre todos.






Ou para que vire , de todo, uma cegueira.

Dia sem música.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Vida 20 polegadas.

Por que os pensamentos mudam?

Pensei a respeito disso, não apenas hoje, mas desde um tempo estou me quedando sobre essas reflexões a respeito de mim e do outro.
Lembro bem de pensar em ser feliz pra sempre (não quero começar um drama), não que me soe impossível que isso ocorra, mas já não sei se quero mais.
A sensação de felicidade é uma coisa gostosa, mas como eu disse, é uma sensação. A idéia de ter uma sensação ( pelo que entendo, uma resposta a um estímulo, estado rápido, momentâneo)perpetuada me parece um tanto fora da realidade. É como ficar drogado para sempre, sedado para sempre.

Quando estamos em extremos, muitas coisas nos passam impunes aos olhos. Pessoas novas, cheiros novos, texturas novas, peles novas.
Como os meus momentos de felicidade são, por bem, espaçados entre si. Experimentei hoje uma dessas coisas boas que a não entorpecência da felicidade nos permite ver: a chuva caiu, e ao andar em direção à biblioteca que costumo ir, o cheiro de terra molhada mesclou-se ao cheiro do mato, me dando a nítida sensação de estar sentindo cheiro de erva-doce. Um prazer inexplicável. Melhor do que beber água quando tenho muita sede, mas não tão bom ao ponto de ser melhor que um abraço.
Lá, enternecida, em êxtase como uma tola pelo cheiro de erva-doce, fechei os olhos no meio do caminho. Agora já não mais era caminho, posto que se tornara destino. Lá fiquei, ouvindo minha música, roubando do ar aquele cheiro de infância todo pra mim. Até que fui despertada desse momento ébrio, por uma moça que escorregava na lama e, para não cair, me puxou pelo braço, quase fazendo com que eu me aventurasse em sua queda.

Decidi não mais ir à biblioteca, dei meia volta e me sentei embaixo de uma árvore , e retomei a leitura de um
dos livros que me acompanham por esses dias.

PAUSA: Estou desenvolvendo um TOC, que pode explicar o porquê de eu ter desistido de ir à biblioteca naquele momento: toda vez que eu quero fazer alguma coisa(ir à biblioteca) e sou interrompida por qualquer motivo(menina escorrega e me puxa o braço), eu adio e faço mais tarde(meia volta e ler o livro).

Humbert Humbert (H.H.) é um homem que me causa arrepios, sabe? Tenho lido suas confissões e me encantado, embora ele me cause certa repugnância.

Hoje ouvi que somos como televisões...Rumo a um grande cemitério de TV´s. Tô praticando esse exercício de 20 polegadas:

Ouvi múisica sozinha, ouvi música juntinho, quis um abraço específico e ele não veio, abracei quem talvez nem quisesse um abraço... Recebi outros abraços que quis...
Mas o que não vem é sempre mais duro, e ,talvez por isso, melhor de ser lembrado.

Música: You can't lose a broken heart - Billie Holiday.

domingo, 16 de março de 2008

Recados de Billie

Ontem à noite eu recebi a ilustre visita de minha saudosa amiga Billie.
Como todas as grandes amigos, eu e ela dispensamos explicações demoradas sobre estados de espírito e sensações.
Quando Billie chegou eu estava sentada em frente ao computador, vivenciando mais um daqueles momentos de hipnose tão comuns à contemporaneidade. Billie se sentou e, de longe, acompanhou as conversas que eu travava via internet com colegas, amigos e amores vários que coleciono desde sempre.

Mais experiente e mais temperada pela vida do que eu, Billie começou a cantarolar versos que tudo diziam a respeito de uma conversa em especial:

"I fell in love with you the first time I looked into
Them There Eyes
And you have a certain lil cute way of flirtin'
With Them There Eyes
[...]
You better look out lil brown eyes...if you're wise
They sparkle
They bubble
They're gonna get you in a whole lot of trouble
Oh baby...Them There Eyes"

Depois de cantarolar sutilmente, Billie se retirou em direção ao meu quarto. Em meio aos vários livros técnicos e acadêmicos, Billie pegou o que estava sobre a cabeceira: "Lolita".
Deu um sorriso discreto e em silêncio partiu.
Espero que ela volte hoje.



Música: Them There Eyes - interpretada por Billie Holiday.