sexta-feira, 29 de maio de 2009

Joana d'Água

De todos os lugares aos quais tinha viajado, Joana não se lembrava de nenhum que fosse tão emocionante quanto a viagem da noite anterior.
Ela caminhara por ruas molhadas de história. Lembranças, tragédias silêncios e água. Lágrimas, saliva, suor e todas as águas que haviam naquele lugar.
Joana viajou pra dentro de si. Conheceu o calor de seu corpo e o frio da mente. A inquietação de seu espírito nunca havia lhe dito tanto quanto na noite anterior.
Um sono cheio de sonhos. Bons, de saudade, de medo. Sonhos de água, água dela. Já não sabia acordar.
Na corrida nas ruas molhadas, saiu da carne quente de Joana, o suor frio da noite. E ela se viu só. Se fez lágrimas. Virou água. E escorreu pelas ruas dos seus sonhos, sendo a água-história que ela queria viver.


Escrito em 27/05/2009.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Cúmplice.

Eu queria contar das coisas bonitas que têm me acontecido. Dos sorrisos que recebi, das lágrimas que dividiram comigo, do carinho, da sinceridade inocente e cúmplice. Ah, cumplicidade. Coisa bonita de ter e sentir, viu? Nós precisamos ser mais cúmplices, porque quando o somos, parece que o mundo todo vai embora e nada mais faz falta, porque o cúmplice tá ali.
O tal do cúmplice pode ser um amigo, um parente, um amor novo que chega, um amor velho que volta, mas ele precisa de uma coisa apenas: Sinceridade nos olhos, ainda que esses não enxerguem muito bem. E de tato.
Cumplicidade sem toque não existe.
Se o cúmplice for alguém desejado, amado, confunda, sempre que der, o seu corpo com o dele, pra no momento de não saber quem é quem, poder querer bem ao outro como se quer a si. Confundir é bem menos complexo e sexual do que muita gente pensa, é se entregar de verdade num abraço, manter as mãos unidas por momentos únicos, ainda que curtos. Ligar-se ao outro simplesmente pelo olhar.
E sentir que as lágrimas que saem daqui ou de lá, são todas suas.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O som de Ana.

Continuando a onda de coisas com personagens...

Aninha era uma menina que queria conhecer a vida em sua plenitude.
Queria entender dos mistérios dos homens, dos animais, do sagrado, de tudo. Enchia-se de vida por todo espaço que pudesse encontrar e nunca aprendeu a distinção humana entre o belo e o feio.
De certo modo, essas separações não faziam sentido para ela. Ela adorava assistir partos de animais, ver acidentes ou simplesmente frutas caindo do pé. Abria tudo que encontrava pelo caminho com o intuito mais belo e infantil de ver como as coisas são por dentro.
Ana não usava as palavras da mesma maneira que nós.
Quando perguntavam porque ela abria as coisas ela dizia :" Quero ver como é de verdade." A família dela nunca questionou, censurou nem tampouco incentivou os hábitos desbravadores da menina.
Ana não tinha muitos amigos. Sua vontade de entender tudo demais à sua maneira exótica sempre afastou as crianças da sua idade. Quando seus coleguinhas estavam descobrindo as diferenças de sexo entre garotos e garotas, ela estava abrindo animais para confirmar as lendas de cegonha.
Ana se enchia de vida. Engolia toda a vida que pudesse encontrar e depois vomitava. "Quero ver como é de verdade."
Ana foi crescendo e percebeu que saber demais sobre a vida tinha lhe custado viver dela muito pouco junto com as outras pessoas.
Ana resolver pesquisar outro setor de vida que não era fisiológico, ao menos a princípio.
Resolveu lidar com as pessoas da sua idade.
À essa altura ela já estava com 16 anos e era o protótipo perfeito da esquisitisse. Usava óculos, não andava na moda, era corcunda e não via motivos que a animassem pra conversar com seus contemporâneos.
A vida a que ela se acostumara era viva demais. Banalidades, embora fossem parte da vida, pareciam com pouco encanto para ela. Algo não digno de ser dissecado.
Mas aquele grupo, banal, por certo, Ana não conseguiu ignorar. Havia vida neles, uma vez que se locomoviam... E ela resolveu dissecar...

Nessa vida locomotiva que ela assistia, o barulho de "piuí" não era nada poético como as Marias-fumaça. Era um piuí tecnotrancedancehiphop era um chiado barulhento e mudo de essência. Era barulho.

Dissecou, dissecou, dissecou... Alguns ela até quis dissecar literalmente, mas Ana era esquisita e não doida.
E dissecando foi, até descobrir que o que faltava naqueles que a cercavam era som.
Um som que significasse, um som que musicasse, um som que dissesse algo que não fosse apenas sensível, mas inteligível. Um som que não falasse língua nenhuma, mas que falasse todas. Um som que fosse como ela era. Um som que inspirasse as pessoas a querer ver de verdade.

domingo, 17 de maio de 2009

A louca.

"O bom de se decepcionar com as pessoas, é que depois que você se livra delas, elas se mostram bem piores do que antes, dando espaço para aquele: "Ai, que alívo!" que todo mundo merece.
Não que eu ache bom que outra pessoa seja feita de trouxa no meu lugar, mas é que realmente, ter saído da merda a tempo de me recuperar, foi o melhor presente de Deus pra minha vida.

Quanto à querida que fica perdendo seu tempo e gastando energia super preocupada se eu quero seu namoradinho, vai a dica: Sai do meu pé, bonitinha... Se valoriza! Passa uma maquiagem legal, vai ler um livro, trabalhar, ou então passa mais tempo perto dele pra saber o que ele anda fazendo...

Beijos,
Mary Jane revoltada."



Adoro esses lapsos de antigamente, Resolvi postar.





Ai que saco... chega de romantiquezas.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mar nos olhos.

"This time we'll take it slow"... Coisa linda de John Legend... quem quiser pode até ouvir aqui na minha playlist...
Sermos pessoas ordinárias, naquele sentindo primeiro de ordinário: dentro da ordem, comuns, normais. Como é difícil! Reconhecer que é hora de ir devagar, calma nos passos, calma na mente, calma nas pessoas... Reconhecer que não sabemos que caminho tomar.
Face às dificuldades que sempre se apresentam, a melhor saída me parece ser nos reconhecermos na falta de detalhes que nos tornem pessoas muito melhores que as outras... Diante disso...



Maria sabia de tudo. Ela sempre sabia o que esperar das pessoas, das coisas da meteorologia, de tudo. Os dias da semana passavam sem graça, as aulas eram todas aquém da inteligência dela, os homens eram muito iguais e as mulheres também.
Maria não tinha nada de normal.
Talvez pelo seu ar arrogante e superior, muitos homens se sentissem atraídos por ela, mas ela não se atraía por nenhum. No máximo um romance antigo da infância, mas esses não contavam já que eram da época em que ela ainda não sabia de tudo.

Um dia, o menino mais apagadinho da escola, João, presenteou Maria com um embrulho pequeno e disse a ela: "Duvido que você conheça esse presente que eu tô te dando."
A menina ficou quase irritada com a ousadia do rapaz em discordar do poder dela de saber de todas as coisas. A ousadia do rapaz foi tanta, que ele ainda esperou, com um sorrisinho no rosto, para ver quais seriam os palpites da moça.

O simples fato de uma pessoa tão apagada se julgar à sua altura, fez com que Maria perdesse todas as suas habilidades de adivinhação, e ela percebeu que não sabia mais nada.
Meio sem graça, olhou João nos olhos e levantou levemente os ombros num gesto de desdém.
O rapaz abriu o embrulho tocando também as mãos de Maria, num gesto quase inocente de carinho e afronta.
Do embrulho cairam grãos de areia que se espalhavam entre os desdos de Maria e caíam ao chão, e o jovem falou: "São como você: muito pequenos e diferentes, podem aparecer pelo chão da cidade sem que ninguém dê importância, ou podem sumir de modo que ninguém os veja, e dar sustenção ao mar." A esse momento, os olhos de Maria já eram o próprio mar de João.

domingo, 10 de maio de 2009

Correndo Parada.

Parada era uma menina como qualquer outra. Adolescente, espinhas, amores platônicos, essas coisas de todas da sua idade... Mas ela carregava um peso: seu nome.
Parada não tomava atitudes para absolutamente nada.
Não demonstrava nada, não agilizava nada, não fazia nada que não fosse ficar assim... parada.
Perdeu amores, perdeu dinheiro, perdeu oportunidades de emprego, mas não perdeu a sua característica mais inerente.

Pelo menos até o dia em que não achou mais quem a locomovesse. Foi o fim. Parada sentiu fome, sentiu frio, setiu vontade de telefonar, de chorar, de gritar, mas não saía do lugar.
E foi aí que ela PERCEBEU que vivia PARADA.
Tentou sair do lugar, mas não sabia ao certo que musculos mexer para andar. Tentou se lembrar de todos os músculos que já tinha usado: lembrou da língua, lembrou das mãos, e sabia que deveria mexer as pernas, mas ela não sabia que comandos dar. Suas pernas só sabiam sentar e levantar.

Foi então que passou um menino, ele se chamava Correndo. E ele andava, corria, pulava, tudo com uma desenvoltura que deu até raiva em Parada.
Foi aí que ela teve uma idéia. Chamou Correndo e ele veio até ela. Pediu a ele que a segurasse pela mão para que corressem juntos (tudo isso sem dizer a Correndo que não sabia sair do lugar).

"Mas que ideia maluca" Correndo pensou, mas aceitou, afinal não parecia nada demais.
"Um, dois, três e já!" Corredo disparou segurando a mão de Parada, que desesperou-se por não saber se controlar.
"Solta o freio!!!" Correndo gritava o tempo todo sem parar de correr nenhum instante.
Parada fechou os olhos e começou a rezar e, antes que percebesse, estava correndo junto com Correndo.
E co-correram os dois, e Correndo já não sabia parar. Parada não queria parar e foram. Até não haver mais joelho, até não haver mais carreira, até não haver mais parada.
Até Parada morrer e Correndo parar.
Parada morreu de alegria e Correndo morreu de cansaço, e os dois morreram pra ver que era preciso mais do que se arrastarem pra ficarem juntos.
Um tinha que correr e o outro tinha que frear.
Os dois ao mesmo tempo, os dois em seu compasso, não sabiam.

Quero sal...

Ponha sal nesses dias insossos.
Ponha tempero, cheiro, mais gosto. Se prive do medo do que seria. Pare de agir com tudo perfeitamente calculado. Aja e apenas isso... Faça pelo menos um pouco do que te der vontade, sem " e se".
Se permita estar comigo como eu sei e você também sabe que quer.
Se permita dizer com palavras mais sérias o que você já declara entre brincadeiras.

E faça tudo isso logo, antes que alguém o faça.
Melhor morrer de pressão alta pelo sal dos dias, do que de desgosto, pela falta de gosto.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Prólogo de ontem

Ele chegou mais cedo aqui em casa hoje... A gente tinha combinado só às 20:30, não tinha dado nem oito e ele já tava aqui.
Achei então que poderia fazer um carinho a mais, mas não sem antes terminar de me arrumar direito.
Fiz tudo bem rápido: sombra, lápis, perfume, perfeito.
Eu não sei quanto tempo faz que eu espero por esse momento. Pronto, tô pronta. Ele, alto, todo lindo, sentado no sofá, folheando qualquer revista, naquele movimento consultório, pra ver se o tempo passa logo.
Cheguei na sala com meu jeito desengonçado, e a gente se viu... - Nossa, você conseguiu ficar ainda mais bonita... - adoro elogios vindos dele... eles saem de dentro dos olhos, de modo que ele podia ficar mudo ali, eu saberia o que ele queria dizer.
Conversamos sobre a ordem do dia, a ordem das coisas, a ordem da vida. Tomamos sorvete, demos gargalhadas e tivemos certeza de que, pelo menos naquele momento, não queríamos estar em nenhum lugar onde não estivéssemos juntos.
Voltamos pra casa, chovia tanto... Era de emoção que o céu chorava aquela noite.
O toque das mãos era a mais sinestésica experiência que eu já havia experimentado, sentia o cheiro da pele, o gosto, a cor, tudo apenas pelas mãos, e era apenas naquelas mãos também, que ele desejava se perder.
A música ambiente era algo no estilo Jorge Ben ou Wander Lee, nem agitado, nem devagar. E a gente dançou juntinho, cedendo ao pedido que vinha de dentro do peito dos dois para que nos uníssemos.
A noite já ia longa com aquele cheiro de sem-fim... Vontade nenhuma de se despedir, com um frio na barriga de "e se continuar?". Lembrei da vontade de não dormir com saudade, pensando, mandando mensagem... E nos despedimos ali, entre as mãos que se procuravam e os olhos que sempre se achavam, ansiosos pelo que poderia ter sido.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Números, árvores e chão.

De números são feitas as coisas...
"Quanto dinheiro? Quantas páginas? Quantas horas? Quantas você pegou ontem?" Responder a vida em número pode parecer fútil a princípio, mas é exatamente assim que tenho visto a vida ser medida. Quantas eu deixarei de ficar se escolher essa? O que eu ganho por essa companhia? Pensamentos que foram considerados supérfluos, principalmente depois dessa era de super-romantização de tudo.
Fui vítima da super-romantização, mas consigo racionalizar quase tudo nessa vida. Até o amor quando chegou até mim foi racionalizado.
E vocês? Acham bonito se esconder por trás de uma mascarazinha romântica quando na verdade não dão conta de nada disso? Acham bonito serem os engraçadinhos da vez, plantando uma semente em cada coração por onde quer que passem? Pois eu digo que não façam isso. Pois dentro de cada coração no qual plantamos sementes podem nascer grandes arvores, daquelas que quebram o chão no centro da cidade...
Grandes árvores quebrando um coração por dentro são responsabilidade, sim, daquele que a plantou... como já disseram "tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas".
Penso nisso hoje , mais do que nunca, porque vi que meu saquinho de sementes estava furado no caminho, e saí plantando sementes onde eu menos esperava...
Mas querendo ou sem querer, me tornei responsável, e como não pretendo levar minha vida em números de corações despedaçados, carrego agora comigo além das sementes, um rolinho de esparadrapo e sabedoria, para remendar e curar, na hora certa, aqueles nos quais o maldito saquinho furado plantou árvores quebradoras de chão.




Música: The Truth - India Arie

terça-feira, 5 de maio de 2009

Desde que peça com carinho...

Ouvi isso e foi engraçado
"Tem que pedir com carinho"
Mas que conselho desalmado
Eu aqui no meu cantinho
Tendo que pedir com carinho
o carinho que por ti guardo!?



Primeiro post com alvo.


Música: Canto de Ossanha

"Te adorando pelo avesso...

... Só pra provar que ainda sou tua..."

Pedindo licença a Chico Buarque para começar a postagem de hoje com uma de suas frases que mais significam pra mim...
A música é "Atrás da Porta" e serviu, por muito tempo, pra ilustrar a sensação que eu tinha ao me esconder atrás de palavras de raiva, dor ou rancor, do homem que me ensinou o que é amar e ser amada.
Ele esteve aqui há uns dias atrás, num misto de saudade e loucura, de um encontro louco e sem despedida... Uma coisa meio maluca que só quem vive entende.
Um amor que não exclui a racionalidade e não se pretende menos romântico por isso... Um amor que não se alimentou de sexo, nem de mentirinhas ao pé do ouvido... Um amor que começou com adolescentes, que crescem de longe, se tornam homem e mulher, mas ainda um amor.

Um amor cheio de intervalos (acho que descobri o segredo do sucesso das novelas *ri*), um amor cheio de outros amores pelo meio... Um amor do tamanho que tem a melhor parte da minha vida...

Um amor de não se despedir nunca mais. Amor de casar, de ter filhos, e amor de nunca ter nada disso... amor de sim e de não...

Um amor de uma certeza só: a de ainda continuar amando.







Quero dizer que a sessão romântica está prestes a se encerrar.
*ri*

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Esse feriado foi feriado de música, como são todos os dias da minha vida.
Música boa, música nem tão boa, mas música. Como foram boas as músicas cantadas em conjunto, as músicas cantadas sozinha, e as coisas feitas, que certamente serão inspiração para músicas que ainda não foram compostas.

Hoje, encontro as razões e as pessoas que me fariam e me fizeram compor. E as guardo nos meus papéis novos e antigos... Naqueles que todos guardamos embaixo da cama, numa caixinha escondida, ou simplesmente junto com todos os papéis sem importância para que ninguém desconfie... Mas todos nós guardamos... E é sentimento puro de saudade e orfandade quando compartilhamos nossas inspirações.
É mais simples quando as compartilhamos com gente amiga, mas ainda dói.

E como dói ouvir uma declaração de amor. MEU DEUS DO CÉU. A dor mais profunda é a de se saber amado por alguém e não ter condições de fazer o mesmo. Experimentei isso... E é triste saber que os amores antigos, mesmo sendo velhos, ocupam o lugar que seria dado para os novos amores, e que por isso eles podem não se concretizar.
É como aqueles carros antigos que já nem andam mais, mas animam e agradam a memória de seus colecionadores, permanecendo sempre ali, naquela vaga.

Vou criar o movimento : amplie as vagas dos corações, e vou me inscrever pra umas cinco. (aham, até parece que tem tanto candidato (sem drama)) .

Mas é sério. Ampliem as vagas dos seus corações e sejam mais felizes! Amore novo não precisa ocupar o lugar do amor antigo. Ele só precisa de uma vaga nova.


Beijo amarelo depois de um texto ruim.