quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sem título

Apaguei o escrevi outrora, para tentar fazer mais bonito dessa vez.
Consegui fazer com que hoje fosse mais bonito que ontem. Consegui me emaranhar em cabelos. Consegui captar dos cabelos o emaranhado de sonhos. Nunca pensei que o simples toque guardasse em si tantos atributos de uma sinestesia generalizada.
Senti o cheiro, o gosto, a cor de um toque.

Ouvir o som da voz. Ai, que coisa tão maravilhosa. Mirar bem no fundo dos olhos. Para mim é certo que poucos fazem isso comigo. Mirar no fundo dos meus olhos é se perder num abismo que a maioria não está disposto.
Mas, no mistério dos meus olhos está o que meu corpo explica.

Você que me leu tão precisamente, embora tão depressa. Você de quem cheguei tão perto. Você que eu nem conheço. Senti hoje o cheiro de sua alma e ao contrário do que eu pensava das almas, elas cheiram exatamente como os corpos.
Têm o cheiro bom da manhã, têm o cheiro de ombros. De ombros que largaram todo o peso pra trás. A alma cheira ao pó. Ao pó espanado da mobília antiga, do estofado do carro que nós não temos, mas que está lá.

As almas cheiram a mãos e cabelos. A braços e pernas. A um abraço demorado.
A alma tem cheiro de pele.












Música: Cantinho- Ana Carolina