quinta-feira, 23 de abril de 2009

A corrente

Ela tinha uma corrente, daquelas que prendem pelo pé. Ele não tinha corrente nenhuma, mas isso era recente, ele soltou-se das correntes há pouco.
Ela fingia não ver as marcas no pé dele, afim de que ele não perguntasse sobre a sua amarra. Os dois saíram, conversaram, assuntos não faltavam. E eles seguiam, ambos meio mancos pelo meio da cidade. Ao longo do caminho, suas pernas foram se sentindo cada vez mais livres e,a corrente, cada vez mais fraca, foi largando-se em ferrugem, até que o elo se rompeu.
Ele, com as marcas dos pés ainda doloridas, ficou pelo caminho, pois nada conseguia ver à frente que não lembrasse suas dores. E ela se foi.
Leve e sem feridas, percebeu que, acostumada com o peso das correntes, agora fazia a mesma força para andar como se carregasse ainda o peso de antes, e por isso corria. Corria demais. Encontrou pelo caminho um menino com correntes na mão. Mas ele não estava preso por elas, apenas as segurava, procurando alguém que estivesse disposto a ser preso por elas e caminhar lentamente com ele ao longo de sua estrada. Ela viu, conversou com ele e quando menos percebeu, estava presa. Contra a vontade, mas presa.
E se compadeceu tanto da dor da solidão do rapaz, que não conseguiu pedir que a soltasse.
E presa seguiu. Andando pelos buracos e desvios daquela estrada que era só dele, onde só havia espaço para um, mas ainda assim não disse.
Tropeçaram, se embolaram, ele a atropelou no meio de sua inquietaçao. E ela foi aniquilada, morta. Mas ele precisava tanto de uma companhia, qualquer que fosse, que nem percebeu. E seguiu, arrastando sua companhia passiva e morta, até q a carne cedeu, e ela ficou, passiva e com marcas num caminho que não era dela.






Sei que ficou pesado e estranho, mas é pra dizer que preciso vivera minha vida, com o meu peso, com os es buracos pelo caminho. O meu caminho.