quinta-feira, 24 de abril de 2008

Como me dizem os sambas

"É uma ponte lá para o longe
dos horizontes jardim sem espinhos
Vinho que vai bem com qualquer canção
Roupa de vestir qualquer estação"

De acordo com Luiz Carlos da Vila, essa seria a definição do que é amar.
Na sambitude das minhas intepretações isso é tão sublime que chega a ser inominável

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Deus é finito.

Finito.

Toda eternidade é finita. Não quero aqui escrever os paradoxos poéticos que a tantos encantam, mas a mim eles já enojam, enojam mais por se mostrarem tão reais.
Voltando, essa finitude cotidiana, quando começamos sempre algo que se faz parecer com um ciclo e em seguida se rompe. Se rompe porque o alguém sempre se vai.
E ir nunca é problema, a não ser quando quem fica é a gente. Eu me acostumei a deixar, até que começou um ciclo de pessoas queridas me deixarem. O que eu fiz? Deixei também.
E eis que vem um que desde sempre disse: "Ei, eu vou te deixar, aliás, eu não estou nem aqui."
Mas depois diz:"Ei, estou aqui, não vou te deixar."
E ele está e nunca está. Como Deus.

Mas a minha fé não dá conta de um deus tão frágil. Um deus que se vai porque se esconde, porque não quer ser visto. Um deus covarde.

Um deus que esconde os olhos, sabe-se lá porquê.

E tento a esse deus dizer adeus, mas parece vão.
Os olhos de deus são demasiado profundos, e eu, não fujo de olhos...

domingo, 13 de abril de 2008

Do amor e das palavras.

Dessa vez, a coisa linda é entender quando se é amado, mesmo quando ser amante grita o contrário.
Entender que o amor, assim como a música, não se alimenta de palavras, é um processo muito intrigante. E eu, pessoa para a qual as palavras sempre significaram demais, percebi que as palavras significam muito mesmo, mas quando elas não se pretendem significar.

A poesia se pretende escrita, declamada, doída.
Mas, ao contrário do que se pensa, a poesia serve muito mais ao poeta do que às musas.
Porque o poeta, na maioria das vezes, não alcança com a poesia, a verbalização do que as musas os inspiram.




Matei todos que escreveram sobre mim.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Levidade

A mim nunca pareceu tão estranho e complicado ser leve.
Nunca antes senti a diferença entre o ar dentro e fora de mim, andar era como deslizar no tempo. Todas as maravilhas da leveza eu experimentei, até que o peso chegou. Mas eu já o quero mandar partir, de todas as coisas que tenho e não quero, a que menos quero é o peso.

O peso entorta os ombros de que tanto gosto, todos os ombros se enfeiam com o peso. O peso nos fura embaixo dos olhos, nos arranca as unhas e torna opaco nossos cabelos.





Estou hoje, meu amor, me livrando do peso que é você.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sem título

Apaguei o escrevi outrora, para tentar fazer mais bonito dessa vez.
Consegui fazer com que hoje fosse mais bonito que ontem. Consegui me emaranhar em cabelos. Consegui captar dos cabelos o emaranhado de sonhos. Nunca pensei que o simples toque guardasse em si tantos atributos de uma sinestesia generalizada.
Senti o cheiro, o gosto, a cor de um toque.

Ouvir o som da voz. Ai, que coisa tão maravilhosa. Mirar bem no fundo dos olhos. Para mim é certo que poucos fazem isso comigo. Mirar no fundo dos meus olhos é se perder num abismo que a maioria não está disposto.
Mas, no mistério dos meus olhos está o que meu corpo explica.

Você que me leu tão precisamente, embora tão depressa. Você de quem cheguei tão perto. Você que eu nem conheço. Senti hoje o cheiro de sua alma e ao contrário do que eu pensava das almas, elas cheiram exatamente como os corpos.
Têm o cheiro bom da manhã, têm o cheiro de ombros. De ombros que largaram todo o peso pra trás. A alma cheira ao pó. Ao pó espanado da mobília antiga, do estofado do carro que nós não temos, mas que está lá.

As almas cheiram a mãos e cabelos. A braços e pernas. A um abraço demorado.
A alma tem cheiro de pele.












Música: Cantinho- Ana Carolina