"Não lembro de nada direito. Só sei que tinha um sax, dois ou três cigarros na carteira e um acompanhante que também não lembro o rosto.
Música boa, conversa boa e cigarro acabando. Desculpa muito boa pra levar qualquer um pra minha casa. Devo dizer que tem ficado cada dia maís fácil enrolar esses meninos de hoje em dia. Sou uma mulher solteira de 35 anos muito bonita, modéstia à parte, e rica.
Esses meninos só conseguem enxergar isso pela frente. Uma noite paga, uma trepada boa e história pra contar de manhã. O sax quem ouvia era só eu mesmo. Acho que os hormônios da juventude masculina diluem o bom gosto musical. Não é geral, não se ofendam, meninos, mas foi assim.
Eu cantarolando meus antigos jazz e ele se sacudindo na mesa ao som do sertanejo que tocava no bar da frente. Cansei. Incompatibilidade de gênios. Desisti da desculpa boa pra levar um molecote pra casa. Resolvi ir sozinha mesmo. Já fiz isso tantas vezes que uma a mais ou a menos, não faria muita diferença. A surpresa foi na saída do restaurante.
Achei de onde vinha o tal do jazz. Das mãos perfeitas e do sopro forte do saxofonista mais lindo que eu já tinha visto nos bares dessa cidade. Já o tinha visto outras vezes, mas naquele dia, a coisa tava diferente. A música tocava dentro dele de uma maneira quase obscena.
Dispensei o molecote e resolvi ficar ali até aquele deus terminar seu ritual. Apaixonei. Eu sei que alguma linha da psicologia pode me dizer que o fator-paixão foi o sax na mão dele, e pode até ser verdade, mas o que mais me encantou foi o sopro mesmo e aqueles olhos fechados esperando a música sair de dentro de si e entrar, ao mesmo tempo, ali na minha frente.
E ele me viu. Todo mundo viu.
No intervalo ele veio até mim, pediu um cigarro (menos um agora, desculpa cada vez melhor pra ir pra casa), e deu um sorriso que os homens só dão quando sabem que são gostosos. Ele era.
Veio com uma conversa mole de já ter me visto, conhecia meu gosto musical e eu não ouvia nada. So olhava pras mãos, pros olhos, pra ele no estado mudo. O único som que eu permitia pra ele era o jazz. Coitado!
Foi pra minha casa, ganhou uns beijinhos, e quando tudo parecia caminhar para onde eu queria, recebi lágrimas. O homem chorava um choro difícil de decifrar, e abraçava e chorava, me beijava e não parava de chorar. Dentro em pouco, eu já chorava também. Não sei se por solidariedade às lágrimas dele, mas chorava, e a cada lágrima aumentava a paixão que começou no bar.
Loucura total, coisa de criança ou de maluco, mas eu gostei.
E foi meio sem jeito, meio molhado, meio lacrimejante que ele escreveu em minha pele sua música, fui seu ritmo, sua partitura, seu sax.
Fui."
Música de hoje: Seven Day Fool - Etta James
domingo, 12 de julho de 2009
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Natureza.
O gosto era de pele jovem, antiga, mas jovem. Os olhos eram meio assim, curiosos... Apagadinhos curiosos que tentavam disfarçar não me achar criança demais praqueles momentos, mas tudo isso eu conseguia ignorar.
Das palavras arrogantes às que se prentendiam sensuais, todas elas tomavam meus ouvidos e meus olhos sem que eu nada pudesse fazer. E me rendi. Foi uma rendição medrosa, confesso. Mas uma rendição.
Som de coração batendo e de risada fácil, era tudo o que eu ouvia por trás da porta dele. Uma porta entreaberta que parecia querer me atrair como o doce a uma criança. Analogia fraca, no entanto esclarecedora sobre o que me ocorreu.
Do meio do mato que era eu, se ouviam passos. Do meio do nada que me parecia o outro, eu sentia gargalhadas. Daquelas bem bonachonas, sabe? é... de tudo que eu já aprendi a fazer, me fazer de morta foi o mais útil e mais difícil com essa natureza que ganhei de alguém.
Minha natureza viva transbordando pra dentro de mim.
Uma natureza quase viva ou meio morta querendo sair por dentro de mim... Mas ainda assim uma natureza. Mas ela era pra dois. Pra uma e pra algum outro. Um outro qualquer, um outro rotativo, ou outro perene, mas um outro.
Requisito? Sei lá... anti-natureza morta deve bastar.
Das palavras arrogantes às que se prentendiam sensuais, todas elas tomavam meus ouvidos e meus olhos sem que eu nada pudesse fazer. E me rendi. Foi uma rendição medrosa, confesso. Mas uma rendição.
Som de coração batendo e de risada fácil, era tudo o que eu ouvia por trás da porta dele. Uma porta entreaberta que parecia querer me atrair como o doce a uma criança. Analogia fraca, no entanto esclarecedora sobre o que me ocorreu.
Do meio do mato que era eu, se ouviam passos. Do meio do nada que me parecia o outro, eu sentia gargalhadas. Daquelas bem bonachonas, sabe? é... de tudo que eu já aprendi a fazer, me fazer de morta foi o mais útil e mais difícil com essa natureza que ganhei de alguém.
Minha natureza viva transbordando pra dentro de mim.
Uma natureza quase viva ou meio morta querendo sair por dentro de mim... Mas ainda assim uma natureza. Mas ela era pra dois. Pra uma e pra algum outro. Um outro qualquer, um outro rotativo, ou outro perene, mas um outro.
Requisito? Sei lá... anti-natureza morta deve bastar.
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